Translate

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Cercas Elétricas e o Pastejo Rotacionado - Capitulo 10

Fazenda Veredas 28/01/2013
As cercas preferidas pelos pecuaristas do passado eram as de arame farpado que depois cederam espaço para as cercas de arame liso, chamadas de Cercas Paraguaias. Penso que se fossem realmente boas, não seriam chamadas de Paraguaias, mas esta é outra história. Ainda assim são as cercas mais utilizadas no Brasil.

Com  a necessidade de se conseguir uma maior produtividade por hectare, pois os criadores de gado já não aguentavam mais aquela lorota de se criar uma vaquinha por hectare de terra, os pecuaristas passaram a utilizar cada vez mais as técnicas de pastejo rotacionado que, como sabemos, consiste em subdividir os pastos em pequenos piquetes, nos quais as vacas pastejam por um a três dias no máximo, que exigiram novas  soluções, mais econômicas e eficazes,  para a construção de cercas para bovinos.

E hoje nada mais eficiente e barato que uma cerca elétrica bem planejada, executada e operada, pois do contrário irá provocar choro e ranger de dentes no pobre pecuarista.

Cercas Elétricas Exigem Planejamento Sofisticado


Piquetes Pasto 3 - Fazenda Veredas
Se você é um pecuarista a moda antiga e não entende muito de eletricidade e não está disposto a recorrer aos conhecimentos de um técnico no assunto, melhor não se atrever a instalar cercas elétricas. Continue com as cercas de Arame Farpado ou Paraguaia. Dizem por ai que valas cheias d'água e com alguns jacarés também funcionam.

Explico, uma cerca elétrica é uma tecnologia sensível, entre outras coisas, às mudança climáticas e as bobagens  que, seus funcionários fatalmente irão praticar. 

Então, o primeiro passo é o projeto dos piquetes e ele deverá ser executado utilizando o Google Earth, que é o programa do Google que permite a nós, ao governo e ao MST, a visualização de nossas propriedades através de imagens de satélites. É de graça e simples de usar. Caso você não tenha familiaridade com Internet, solicite ajuda de um técnico para ir até sua propriedade e fazer o projeto do conjunto de piquetes com ajuda de um GPS. Se ele aparecer com uma trena, solte os cachorros e chame a polícia.

Todo sucesso no uso do pastejo rotacionado e consequentemente das cercas elétricas dependerá deste planejamento e do projeto final dos piquetes, seus corredores de acesso,   cochos de água, sal e áreas de sombreamento.

Um Energizador Potente e de Qualidade

O Energizador é o gerador de pulsos de alta tensão (até 10.000 V) e de curta duração (baixa potência) para não colocar em  risco a saúde do ser humano e do animal. Portanto este é componente mais importante de uma cerca elétrica e deverá ser adquirido de fabricantes idôneos e bem conhecidos no país. Fuja dos Energizadores de Baixa Potência,  pequeno alcance e baratinhos. Não servem apara nada. 

Na Fazenda Veredas, devido a quantidade extensa da malha de arames e fios eletro-plásticos, pois são mais de uma centena de piquetes, tivemos a necessidade de trabalhar com 3 aparelhos energizadores. 


Cada energizador tem uma determinada potência que define seu alcance, de 10 a 300 Km, Km, mas o alcance não quer dizer muita coisa. O mais importante é o raio de alcance dos aparelhos que normalmente é de apenas 6% do comprimento total. Assim, um aparelho de 30 km de alcance, por exemplo, têm um raio de ação de 2 km no máximo e dentro deste raio, poderia se utilizar os 30 km de cercas indicados no rótulo do fabricante, mas isto na teoria. Na prática o alcance é bem menor, devido a principalmente as perdas nos fios e fugas ao longo das cercas, que são virtualmente impossíveis de se evitar, principalmente nas chuvas quando o capim cresce e rouba muito da potência do energizador.

Mas se você é um latifundiário e tem Kms e kms de terras, não se preocupe, existem energizadores com placas solares e baterias que podem ser instalados em qualquer ponto remoto da sua propriedade, com exceção de cavernas e matas fechadas. Claro que, em sendo um latifundiário você nem vai querer saber de pastos rotacionados muito menos ler este blog. Vai criar seus boizinhos com se fossem búfalos selvagens,  livres na imensidão das pastagens. Um beleza. 

O Aterramento

Você irá encontrar diversos estudos, de autores seríssimos que discorrem com toda pompa e circunstância possível  sobre como montar o aterramento ideal para sua cerca elétrica. Verdadeiras teses de doutorado, mas não perca seu precioso tempo. Lembre-se que na estação da seca, a camada superficial do solo estará completamente seca e sua condutividade será praticamente zero e portanto as vaquinhas irão atravessar suas cercas elétricas como se elas não existissem. Para um aterramento mínimo razoável utilize 3 hastes de ferro galvanizado espaçadas em linha de 3 em 3 metros. Claro se você é do tipo detalhista que costuma queimar dinheiro em locais públicos, siga os manuais.

Mas se na seca o gado irá passar como fantasma pelas cercas, o que fazer? Só há uma solução: use um segundo fio na cerca, o chamado fio terra. O gado ao encostar as canelas no fio terra e no fio energizado irá receber um choquinho de uns 9 mil volts e pensará duas vezes em atravessar aquela cerca. Mas lembre-se, não adianta você sair puxando um arame por toda cerca para levar o famoso terra que está localizado próximo ao curral. É preciso enterrar outras barras ao longo das cercas para garantir um aterramento adequado. Como eu não tenho muita paciência, utilizo uma das melhores invenções já criadas para cercas e abandonadas, pois no Brasil coisas muito boas não tem futuro, que é o vergalhão de ferro galvanizado da Gerdau, que permite a construção de cercas elétricas ou Paraguaias muito rápidas. Utilizando o vergalhão em pontos estratégicos das cercas obtenho um aterramento muito bom. O produto não foi feito para isto mas e daí? Consigo unir duas funcionalidade com um produto só e que se danem os técnicos.
Vergalhão da Gerdau


Diferentes Modelos de Cerca para cada Raça de Bovinos.

A cerca mais comum e mais barata é a de um fio, colocado a 80 cm do chão e é utilizada para gado leiteiro adulto.

Para as raças Zebu, como o Nelore, recomenda-se 2 fios, um a 80 cm do chão e outro a 1,10 de altura. Mas esqueça os manuais. 

Use um fio energizado a 80 cm do chão e outro terra a 1,30 m do chão, porque o gado Nelore está saltando cada vez mais alto, talvez devido as proximidades das olimpíadas no Brasil. Se você possui vacas com bezerros, terá que  usar outro fio terra a 30 ou  40 cm do chão. Mas,  tenho conseguido conter o gado Nelore sem bezerros em apenas 2 fios. Se tiver bezerros baixe o fio energizado para 60 ou 70 cm.

Dizem por aí que determinadas raças brasucas,  as chamadas mestiças, mistura de tatu com cobra, além dos três fios, deve-se usar uma tela por cima pois o gado voa.  Mas isto deve ser maledicência da oposição. Mas vamos falar de gado de verdade e esqueçamos as anomalias da natureza tupiniquim.

Fio Eletroplástico ou Arame Liso

Arame de aço galvanizado (arame liso) é tão antigo e ineficaz para cercas elétricas quanto uma máquina de escrever para um escritório moderno. Tem muita gente que nem conhece máquina de escrever. Arame Liso  só serão empregados no futuro nas cercas permanentes das divisas das propriedades, mesmo porque você não pode ir eletrificando suas divisas sem permissão dos vizinhos. 

Os fios eletroplásticos são leves, baratos e fáceis de instalar e exigem madeiramento igualmente barato: esticadores de 4 a 7 cm de diâmetro que custam a bagatela de R$ 3,50 a unidade. E lembre-se, quanto menor o diâmetro do poste do eucalipto, mais durável ele é, pois o o tratamento químico consegue penetrar mais facilmente. Postes de diâmetros maiores, normalmente ficam ocados após uns 5 anos, justamente onde o produto químico de proteção não penetrou. 

Outra vantagem dos fios eletroplásticos é a facilidade na manutenção da cerca em caso de rompimento do fio. Basta um nó e espichar novamente o fio com as mãos que a cerca está recuperada. Adeus espichadeiras perigosas, alicates e outras bobagens.

Esticadores e Postes

Use esticadores de Eucaliptos de 4 a 7 cm de diâmetro de 2,20 de comprimento. Enterrar o esticador numa profundidade de 70 cm. Não use postes de 1,80 m de comprimento caso você pretenda trabalhar com gado nelore. Como ninguém sabe do futuro, melhor optar sempre pelo postes de 2,20 que custam 50 centavos a mais que os de 1,80 m.

A distância entre postes depende exclusivamente do relevo do terreno.


Isoladores.

Nos esticadores utilizar somente castanhas isoladoras pretas, modelo econômico. Nos postes intermediários, deve-se furá-los e instalar isoladores tubulares (mangueiras, sempre da cor preta, pois tenho observado que as de cor laranja, se deterioram com rapidez).

Tronqueiras ou Colchetes
Usar fio eletro plástico preso a um isolador castanha. O cabo isolador para a abertura e fechamento do colchete, deve ser construído com arame liso galvanizado e uma mangueira preta rígida 3/4 que envolverá o arame, o qual deverá ter numa extremidade um gancho e na outra um anel fechado para prender o fio eletro plástico, conforme se pode ver na figura ao lado.  Tudo construído com um simples alicate. Até o momento foi a forma mais segura que encontrei de se fazer um colchete. Molas e outros apetrechos vendidos no mercados são muito úteis para dar choquinho nos peões.
Atenção: um colchete deve ser sempre desenergizado.  Isto significa que ele apenas dá choque quando fechado. Abrindo-se o colchete, pode se jogá-lo ao chão pois estará desenergizado. Os peões têm o péssimo hábito de abrirem os colchetes do alto do cavalo e jogá-los ao chão. Não descem nunca dos cavalos, pois têm medo dos animais perigosos existentes no capim como carrapatos e formigas. 


Corredores

Os corredores devem ter 6 metros de largura para impedir que, o gado, principalmente o Nelore danifique as  cercas e também para  facilitar entrada de máquinas agrícolas nos piquetes. Outra vantagem do piquete largo é que o próprio corredor se transforma num piquete. 


Passagem da Linha Mestra por Porteiras

Deve ser sempre aérea a 4,50 metro de altura, utilizando postes de eucalipto, por exemplo. Evite usar cabos subterrâneos. Só dão problemas. Problemas de isolação, de acidentes, etc.