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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O Melhor Negócio da Pecuária Leiteira é o Bezerro Macho


Obs.: Projeto Viável para preço do milho igual ou abaixo de R$ 30,00

Caminhando contra o vento

Antes que o amigo leitor imagine que eu perdi a razão definitivamente, deixe-me primeiro explicar as razões desta virada de mesa.

Minha vida durante 18 anos foi na área Telecom, dois anos nos EUA e de repente abandono o ramo e vou empreender na atividade rural, para explorar as terras que eu havia comprado há uns 5 anos, lidando com uma atividade que  embora seja relativamente segura, é sabidamente de baixa lucratividade, ou pelo menos eu acreditava nisto.

Por um acaso do destino, em 2001 comecei a me aventurar na atividade leiteira e a partir de 2004 me dediquei exclusivamente a pecuária, mais focado na produção de leite. 

Para quem mal sabia o que era uma vaca, foi uma aventura e tanto. Aprendi muitos com vários profissionais competentes como o professor Nelson Ferreira Lucio, Marcelo Reis, Eltony Leão, Rodrigo Zumpano Rodrigues e outros e, se não existisse a internet, especialmente o google,  teria desistido em poucos anos. Com uma infinidade de informações fui aprendendo e desenvolvendo as planilhas necessárias ao planejamento, controle do rebanho e ao financeiro. Mas o que me entristecia era a rentabilidade, margens pequenas, o que me apontava uma única alternativa: aumentar muito a produção, o que exigia altos investimentos, ou um tempo muito longo para atingir as metas e a longo prazo, como diria Lord Keynes, a longo prazo estaremos todos mortos.

Diversificar para Sobreviver às Crises Sazonais

Após alguns anos decidi diversificar e trabalhar também com a pecuária de corte, por uma razão simples, quando o leite está em baixa, os preços da carne geralmente estão em alta e vice-versa. Uma dependência exclusiva numa atividade só, seria altamente perigosa. 

Mas, havia um impasse, como adquiri as terras com o meu trabalho em Telecom, evidentemente a área é pequena se comparada aos latifúndios dos herdeiros de terras no Brasil. Algumas fazendas são maiores que muitos países. 

Assim, eu teria que encontrar um modelo de negócios que funcionasse sem grandes investimentos e com alta produtividade e giro rápido, para manter o padrão de vida relativamente bom.

Produzindo o Vitelo ou baby beef para um mercado que desconhece o que é isto

E o que eu tinha em mãos para produzir carne sem altos investimentos, era o bezerro da raça holandesa, meu gado preferido para a  pecuária de leite. Mas o problema é que o bezerro macho de gado  com grau de sangue acima de 60% Holandês (que chamaremos de +holandês neste artigo) é considerado uma praga e desprezado pelos produtores. Em geral são doados ou mesmo mortos ao nascer pelo produtor, atitudes que me horrorizavam. Um típico produtor de leite ao saber que sua vaca pariu um bezerro macho holandês,  chora copiosamente, batendo com a cabeça na primeira arvore que encontra e praguejando contra a maré de azar.

Mas eu achava que naquele quinhão havia possibilidades, afinal produzimos 10 milhões de bezerros de leite por ano. Não sei qual a porcentagem, mas uma grande parte de bezerros "indesejados", os +holandeses.

E comecei testar alternativas até que cheguei a dieta de grão de milho inteiro, com reduzida quantidade de volumoso (10%). Isto nos permitiu lucros muito bons por cabeça mas eu queria mais.

Comecei então a testar bezerros mais voltados ao Gir, os quais chamaremos neste artigo de -holandês, que é um tipo de gado Zebuino, originário da Índia e que, cruzado com o holandês, produz fêmeas com alta capacidade leiteira e machos com boa eficiência na produção de carne. Embora seja menos dócil e tenha uma persistência de lactação menor que o holandês. Em compensação, são perfeitamente adaptados ao clima e parasitas tropicais.

No comparativo entre bezerro macho +holandês e o 
-holandês, o resultado foi:

Na estação da seca, o bezerro +holandês, tem um ganho de peso diário superior ao bezerro -holandês mas, na estação da chuva, o bezerro -holandês supera e muito o +holandês. 
Chegamos a atingir GPD ( ganho de peso dia) de até 2 Kg com o bezerro +holandês,  e 1,5 Kg com o Bezerro  -holandês.

Parece que a escolha certa seria optar pelo bezerro +holandês mas, como diria o Joelmir Beting, na prática, a teoria é outra, pelos seguintes motivos:

1 - Os bezerros +holandeses são mais frágeis, menos resistentes ao calor e por esta razão têm menor conversão alimentar, haja visto que gastam uma boa parte da energia que extraem de sua alimentação no equilíbrio da temperatura corporal. No inverno vão muito bem e têm GDP maior que os - holandeses mas no verão, os - holandeses largam na frente. 

2 - Os criadores de bezerro a pasto fogem do holandês, como o diabo da cruz, pelas razões acima e pela baixa resistência aos parasitas como o carrapato e as doenças que esta praga transmite;

3 - Os confinadores até que compram os bezerros +holandeses, pois estes se adaptam bem ao confinamento, porém pagam preços bastante inferiores ao que pagam no bezerro -holandês, aproveitando-se da oferta superior a demanda;

4 - Os frigoríficos desconhecem a carne de bezerro precoce ou baby beef, o que só demonstra o atraso cultural e tecnológico da bovinocultura em relação a suinocultura e avicultura;

Lucro de 267% em bezerros de 4,5 meses

Há uns 5 meses iniciamos os testes com bezerros com grau de sangue mais acentuado no Gir, no mínimo 50%,   os aqui chamados de  -holandeses.

Desmamados aos 2 meses, foram confinados na dieta de grão inteiro e aos 4,5 meses vendidos com 180 Kg cada a um preço de R$ 1.200,00 por cabeça. Um lucro de R$ 800,00  e um custo final de R$ 422,00 por cabeça. Lucro líquido real de 267%.

Os holandeses produzidos  também vendidos aos 4,5 meses, tiveram o mesmo custo de R$ 422,00, porem o preço de venda se limitou a R$ 700,00 por cabeça. Um lucro líquido de 166%. Muito bom mas, muitos atrasaram na desmama por uma série de doenças, que os bezerros -holandeses não adquiriram, por serem adaptados ao habitat. Assim na média geral o lucro dos +holandeses se limitou a 42% em 4,5 meses.

Nem tudo é maravilha

Se o negócio parece tão lucrativo quanto os do finado Pablo Escobar qual o problema então. 

Escala meus caros. Uma fazenda leiteira típica e relativamente de alta produção no Brasil, têm em média 300 vacas, e podemos esperar no máximo 120 bezerros macho ano. A maioria das fazendas têm muito menos vacas. O ideal seria termos 1.000 bezerros por ano mas isto implica num custo anual só com os bezerros de quase meio milhão e perigos constantes com a instabilidade da economia,  a alta do dólar e consequentemente dos insumos. Se o dólar cai, podemos esperar também uma queda no preço da carne e consequentemente do bezerro macho.

Então resolvi ir aos poucos, inseminando minhas vacas leiteiras com sêmem de touros Gir ou Girolando e principalmente, produzir leite ao menor custo possível gerando o maior numero de bezerros macho por ano. Além disto o conceito de rebanho estável foi por água abaixo, e o que queremos agora é manter todas as fêmeas para que também produzam leite e principalmente bezerros machos, mas isto tem custos, necessita de altos Capex e sangue frio.

Que sêmem sexado que nada

A pecuária leiteira no Brasil chegou a tamanha distorção, que aqui se emprega muito o sêmem sexado, na qual o produtor de leite produz apenas fêmeas menosprezando o altamente lucrativo negócio da pecuária de corte ao aproveitar os bezerros machos.

Não quero nem ouvir falar em sêmem sexado a não ser claro, para replicar com a técnica FIV, herdeiras de uma vaca com características excepcionais. Mas esta é outra história.

Mais é Mais

Antigamente (há alguns meses) meu foco era: obter a maior produtividade por vaca com um rebanho estável, ou seja produzir muito leite com um rebanho mínimo.

Mas, a descoberta deste negócio, mudou meus planos. O foco agora é produzir leite no modelo da Nova Zelândia, uma média de litros de leite por vaca razoável e com o menor custo mas com a diferença que sempre buscaremos o maior rebanho possível para produzir a maior quantidade de bezerros. Utilizando sempre vacas produtivas, adaptadas ao clima, e com alta eficiência reprodutiva. E isto nos força a abandonar os sêmen de touros Holandeses, focando basicamente nos sêmen de touros zebuínos da raça Gir ou Grolando, nacionais. 










quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Uma Riqueza Inexplorada na Pecuária



Obs.: Projeto Viável para preço do milho igual ou abaixo de R$ 30,00

Pecuária de Leite Brasileira - Uma industria do século 19 em transformação profunda e dolorosa.

O Brasil é um país curioso. Nossa industria láctea é uma das mais primitivas do mundo com lactação média ao redor de 1.500 lts de leite por vaca. Os EUA têm uma lactação de de 10 mil lts por vaca e a Índia de 1.200 lts por vaca. Nossa pecuária de leite desenvolveu-se lideradas por produtores extrativistas utilizando técnicas do Brasil Império que produzem o chamado leite verde, coletado de vacas tatu com cobra, cruzamento de racas europeias com o gado Zebuino ou BOVNI (Boi de Origem Vadia Não Identificada), criadas, pode-se dizer, exclusivamente a pasto. 

Ondas de modernidade criaram em Pindorama um arquipélago que eu chamo de Nova Zelíndia, uma mistura de Nova Zelândia com a Índia, formado por ilhas de produtores modernos empregando os mais modernos conceitos na produção leiteira em meio a um cenário desolador, cercados pela  pobreza cultural, tecnológica, de recursos e apoio de um governo jurássico e corrupto   que impede que os produtores tradicionais ou gigolôs de vaca ousem a mudar os seus conceitos.

Isto fez florescer uma imensa cadeia de pequenas cooperativas de leite que funcionam como empresas publicas, elegendo para presidente,  produtores de leite com a visão do século 19  para gerir um negócio de século 21.

Os presidentes, na verdade, se locupletam nos cargos,  com razoáveis salários e vantagens obscuras transformando as cooperativas em cabides de empregos para uma quantidade enorme de pessoas sem capacitação, pois se forem capacitados, podem derrubar o presidente. Então, tirando as devidas exceções, estas cooperativas não tem o menor futuro e serão engolidas pelas grandes multinacionais, que obviamente só se interessam pelos produtores de alta produção. Na verdade 500 mil produtores já abandonaram o negócio e muitas famílias foram para as cidades, para uma vida sofrida, pois sem qualificação não têm a menor chance de concorrer no altamente competitivo mercado de trabalho.

A única maneira seria as cooperativas se unirem formando uma grande cooperativa comandada por executivos com vasta experiencia no setor. Mas isto nem pensar, os presidentes usam até colar de alho e água benta  para se protegerem desta eventual ameaça modernista aos seus cobiçados carguinhos. E assim, one by one, os pequenos laticínios que se fartaram do dinheiro fácil na época do Lula Marolinha vão quebrando e levando consigo uma enorme quantidade de pequenos produtores a uma situação crítica pois, sem as pequenas cooperativas, as grandes multinacionais ditarão preço que quiserem para o leite e pior, coletarão o leite que lhes forem conveniente, mudando totalmente o perfil do produtor de leite, que terá que se profissionalizar. Mas isto não é suficiente. Não basta ter o domínio de novas tecnologias é preciso ter capital de giro e para investir. É preciso ser grande e produzir muito. 
Nos EUA, produtores com menos de 5 mil litros/dia  já não conseguem sobreviver.

Alem da produção é preciso estar posicionado geograficamente numa rota interessante para os laticínios. Quanto mais vizinhos grandes produtores melhor  o pequeno produtor tiver melhor para ele pois as industrias coletarão seu leitinho por uns tempos simplesmente por não adicionar custos de frete.

Com este novo cenário, 1 milhão pequenos produtores abandonarão a atividade num futuro próximo. 

O melhor negócio da Pecuária de Leite 

Hoje no Brasil, com neste cenário de terra arrasada que se encontra o país e que irá produzir mudanças dolorosas, é preciso encontrar meios de subsistir na pecuária de leite durante a fase de convergência para o novo modelo, após o fim da última pequena cooperativa de leite. Lembrando que, este fim pode ser uma fusão de várias pequenas cooperativas numa empresa moderna, grande e competitiva. Mas, dado os interesses pessoais e oligárquicos, como mencionei, é de se duvidar que isto aconteça. Mas a esperança é a ultima que morre e esta é outra história.

Hoje o Brasil produz cerca de 10 milhões de bezerros machos na pecuária de leite. Sua grande maioria é simplesmente eliminada. Isto mesmo senhores, assassinados no momento do nascimento para se evitar os custos na sua criação para um retorno inexistente no modelo tradicional de criação a pasto ou mesmo pelo modelo de altíssimo custo  usado no confinamento de  Pindorama (Pindorama foi o primeiro nome dado ao Brasil pelo índios que aqui habitavam. O nome mudou, o país mudou um pouco).

Os bezerros machos da pecuária leiteira, como explicado no artigo Produzindo Bezerros Precoces para Corte - Resultados poderiam adicionar ao mercado de carne nacional, 100 milhões de arrobas a cada 10 meses, a partir do uso desta técnica pelos produtores de leite. Na verdade, quem vai criá-los serão os produtores de corte, que vão adquiri-los a um preço justo dos produtores de leite, gerando-se assim, uma nova fonte de renda para o produtor de leite. 

Mas, até que os pecuaristas de corte, que em grande parte ainda também trabalham com conceitos do Brasil Império adotem esta nova realidade, o produtores de leite terão que fomentar este negócio, eles próprios engordando os bezerros de leite. 

Muitos se tornarão pecuaristas de corte e outros se especializarão na criação até a desmama, quando irão revenderem os bezerros aos confinadores. Mas isto levará um bom tempo.

Ecologistas: a produção do bezerro precoce salvará a Amazônia do desmatamento

O confinamento de bovinos tomou lugar da pecuária extensiva nos EUA lá pelos idos de 1850. No Brasil, esta novidade ainda não é uma realidade pelo custo tradicionalmente barato das terras no passado e pelas incontáveis heranças de pequenas capitanias hereditárias espalhadas pelo Brasil. Mas isto está no fim e as terras estão cada vez mais valiosas, devido a pressão da agricultura. 

Com isto, as multinacionais e grandes  produtores, invadiram a Amazônia a partir da década de 70 para estabelecer novas áreas  para a produção de carne seguidas depois pelos agricultores. 

A produção dos novilhos precoces utilizando os bezerros machos da pecuária de leite reduzirá drasticamente esta pressão e produzirá menor emissão de gás metano. Os EUA com a metade do rebanho de Pindorama, produzem mais carne  porque eles aproveitam os bezerros de leite, tem mais produtividade devido aos incentivos governamentais e um mercado consumidor poderoso e alta competitividade exportadora devido a qualidade da carne americana.

Nosso gadinho a pasto é musculoso e quando criado de maneira tradicional do Brasil Império, vai para o abate dos 3 aos 5 anos, gerando uma carne dura, de pouco valor no mercado internacional. Claro, temos produtores modernos que produzem carne de alta qualidade mas a norma é o gadinho nelore, musculoso como Schwarzenegger, e duro de matar como Bruce Willis.