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quinta-feira, 3 de junho de 2010

O Gigolô de Vaca

Certa vez, um amigo meu dos EUA, que ganhou um belo dinheiro em ações na Nasdaq, me procurou para investir comigo em pecuária no Brasil. Eu fui taxativo:

- Você provavelmente vai perder seus dólares!

Isto porque o Brasil, na época, possuía um câmbio extremamente volátil.

Outra vez, um empresário poderoso, buscou uma associação para exploração leiteira, e da mesma forma eu o desencorajei, pois em pecuária se trabalha com margens de lucro pequenas, tendo em vista que o negócio é muito seguro.

E muitas outras pessoas sempre me questionaram sobre a viabilidade de se investir em pecuária, incluindo minhas filhas. Para elas e para todos os que desejam se aventurar nesta área, deve-se seguir dez lições básicas, e você, ao final, irá escolher qual o modelito que é mais adequado ao seu perfil de investidor.



1 – Gigolô de Vaca

Este é o modelo mais utilizado no Brasil, o sonho de muitas pessoas que não gostam muito de trabalhar e acham que este negócio permite um dinheirinho fácil e uma vidinha ociosa.

O Gigolô de Vacas, é antes de tudo, um explorador. Ele tanto pode ser um pequeno produtor, que escolhe este modelo por falta de conhecimento ou por falta de opção, pois não tem os recursos necessários para se modernizar. Pode ser um latifundiário retrógado, que segue as mesmas cartilhas de seus antepassados que vieram ainda com as Caravelas de Pedro Álvares Cabral. E por último, pode ser uma empresa, uma multinacional, que compra terras imensas, derruba a floresta e planta ali gramíneas normalmente vindas da África, as chamadas Braquiárias, um tipo de capim, e coloca milhares de cabeças de gado para engordar. Neste caso, o termo correto seria: Gigolô de Terras.

O Gigolô de Vacas Leiteiras

Para o Gigolô de Vacas Leiteiras, uma vaca deve produzir somente a pasto, e com a infra-estrutura mínima, ou seja, um banquinho, um tirador de leite e um resfriador de leite. Na verdade, ele não teria o resfriador, utilizaria os famosos latões de leite do passado mas que, por força da legislação, estão atualmente proibidos no Brasil. Claro, ainda existem os piratas do leite, que ainda utilizam os latões, mas vamos nos restringir à legalidade apenas.

Uma vaca produzindo somente a pasto seria muito bonito, uma vaca verde, sonho dos ecologistas. Acontece que temos estações chuvosas e estações secas. E embora o ecologistas sejam todos verdes, a natureza não é assim.

Claro, com tecnologia, existem os produtores exclusivamente a pasto, mas aí acontece algo pior, eles utilizam a preciosa água para irrigar as pastagens. E é muita água, somente 1 hectare de pastagem ou 10 mil metros quadrados (1 quarteirão) consome cerca de 80 mil litros de água/dia. Em 1 hectare de pastagem irrigada se pode colocar 16 vacas no inverno. Uma fazenda profissional de exploração leiteira a pasto, possui em média, 100 hectares, consumindo 8 milhões de litros de água/dia, equivalente ao consumo de 40 mil pessoas, utilizando a média (alta) nacional de 200 litros per capita dia. Resumindo: 16 vaquinhas verdes em um hectare, consomem água equivalente a 400 pessoas. E depois dizem que gado verde é que é bom. Deve ser, para acabar com a água do planeta.

Estes Gigolôs do Leite eram os maiores responsáveis pelo desequilíbrio de preços no mercado do leite que ocorrem frequentemente no mercado brasileiro, pois, se produzem na seca digamos, 100 litros, na chuva vão produzir 600 litros, e a soma do leite produzido por todos os Gigolôs, gera um excesso sazonal do produto, que joga os preços lá embaixo durante 4 a 5 meses por ano. E eles acham que fazem um bom negócio. Mas hoje em dia o mercado globalizou e os preços não respeitam a velha lógica de baixa águas e alta na seca. Vai depender dos preços do leite no mercado internacional e o mais nefasto, da hora em que as  da multinacionais do setor fazem suas remessas de dólares camufladas ao exterior. Fazem isto importando leite em pó de suas unidades no exterior a um preço alto aproveitado principalmente uma alta do dolar frente ao Real. É uma operação similar ao que fazem as multinacionais automobilísticas que importam componentes superfaturados, um parafuso a um preço de 10 mil dólares, para encher os cofres da matriz àvida pelos dólares gerados no Brasil para cobrir seus deficits no mundo. Agindo assim, elas derrubam os preços do leite no mercado brasileiro quebrando alguns produtores de leite. É um mecanismo regulador de preços. Elas são soberanas e exercem seu poder e quando o pobre ministro da Agricultura consegue entender a situação e conclama o presidente para fazer alguma coisa, o estrago já foi feito e o cenário internacional já mudou e os preços voltam a subir para o produtor. O presidente e o ministro ficam felizes pensando que foi a atitude enérgica deles. E vários novos produtores entram no mercado embalados pelos preços atraentes e perspectivas de lucros fáceis.

Para os Gigolôs de Vacas de Leite, o final do verão marca a época mai difícil, pois as  pastagens secam, e a vacas não encontram mais as quantidades necessárias de energia e proteína e vão se definhando, e produzindo cada vez menos. Não raro, a morte de animais se sucede, e vemos os espetáculos tristes de animais mortos jogados nas estradas.

Com a diminuição do leite produzido pelos Gigolôs,  o produto fica escasso no mercado, o que pode provocar aumentos nos preços para o consumidor e inflação.

Ou seja, um Gigolô causa danos pode causar danos não só aos produtores profissionais, mas a toda população e ao país.

O Gigolô de Gado de Corte

Possui as mesmas características do Gigolô de leite, mas como utiliza um gado adaptado ao clima tropical, em geral originário da Índia, o famoso Zebu, sendo a raça mais utilizada o Nelore, que se adapta bem ao clima quente do Brasil e é resistente aos endo e ectoparasitas aqui encontrados, como exemplos: vermes e carrapatos.

Apesar de também sofrer com as pastagens ruins na seca, um bovino zebu tem muito mais facilidades de sobreviver aos seus rigores, pois ele está adaptado. Com uma suplementação protéica adequada, é perfeitamente possível a criação extensiva de bovinos para corte utilizando-se apenas pastagens. Mas esta é uma atividade que só irá resistir nas terras não aptas a agricultura, pois o mais importantes é produzir os alimentos para alimentar os bilhões de pessoas no mundo. Nos EUA desde 1800, a criação em áreas extensivas foi sendo substituídas pelos confinamentos, onde o gado permanece em ambientes restritos recebendo toda alimentação em cochos específicos ou semi-confinamentos, onde ele pasteja no verão e fica confinado nos meses mais frios. Mas no verão ainda se vê muito gado nos pastos em fazenda, principalmente no norte dos EUA. A maioria das pastagens são irrigadas.

3 comentários:

  1. por que voce nao publica um artigo ensinando como ser um bom produtor sem ser gigolô? como ganhar dinheiro sem ser atingido pelo sistema? esta palavra (gigolô) é muito forte para comparar aos milhoes de herois que criam seus filhos de forma honrada sem intenderem de bolsas de valores de sistemas financeiros e muito menos da vida dos americanos, para falar a verdade uma grande parte deles sao analfabetos e mesmo assim ainda suprem os supermercados,ainda que sendo assolados e criticados pelos que se dizem "intelectuais", de forma fantastica conseguem vencer e educar seus filhos. Antes de tudo eu os admiro.

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  2. por que voce nao publica um artigo ensinando como ser um bom produtor sem ser gigolô? como ganhar dinheiro sem ser atingido pelo sistema? esta palavra (gigolô) é muito forte para comparar aos milhoes de herois que criam seus filhos de forma honrada sem intenderem de bolsas de valores de sistemas financeiros e muito menos da vida dos americanos, para falar a verdade uma grande parte deles sao analfabetos e mesmo assim ainda suprem os supermercados,ainda que sendo assolados e criticados pelos que se dizem "intelectuais", de forma fantastica conseguem vencer e educar seus filhos. Antes de tudo eu os admiro.

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