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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Produzindo Leite: Uma Atividade Cada Vez Mais Profissional

No Brasil temos basicamente 3 tipos de Produtores de Leite:


1 - Produtores Familiares: ( até 1.000 litros de leite / dia) são famílias proprietárias de um pedaço de terra que sobrevivem quase  que exclusivamente do leite, na qual todas atividades são executadas pelos membros da família. Digo quase que exclusivamente, pois como dizia  Pero Vaz de Caminha, nesta terra em se plantando tudo dá, logo as famílias ainda obtém uma rendinha extra com diversas outras atividades não fins mas que ajudam no orçamento doméstico. Um grande negócio, mas uma atividade dura e que requer trabalho árduo e incansável. Não é para todos. Os mais aptos estão cada vez mais se sofisticando e crescendo.  Os demais vão se extinguindo, vendendo as propriedades e mudando para as cidades, atendendo ao irresistível desejo de uma vida ociosa e divertida. Acabam por engrossar o cordão do Bolsa Família, pois o mercado exige especialização que eles não possuem.

2 - Produtores Amarra Cachorro: ( de 1.001 a 5.000 litros de leite /dia). São os médios produtores, como  este humilde escriba,  que se esforçam para  crescer  num mundo de incertezas e mão de obra cada vez mais difícil, pois ninguém quer morar no campo, a não ser que seja proprietário e tenha veículos e recursos para ir a a cidade quando as esposas explodem e falam que não aquentam mais aquela solidão bucólica. Elas querem é o buzinaço, o ronco dos motores, a poluição, tropeçar nas  pessoas nas ruas, nos shopping centers, comer comidas pouco saudáveis e às vezes contaminadas em restaurantes da moda, a dengue, e fuga alucinada de bandidos perigosos e o sibilar das bala perdidas. Eta mundão bom demais. 
Alguns produtores, na verdade  a maioria, moram na cidade, curtindo os prazeres da vida urbana, os bares, o álcool, a cirrose e as conversas fiadas jogada fora em longos papos improdutivos, afinal o ser humano é um ser social , como as formigas e cupins.
Estes produtores tentam produzir cada vez mais, pois o lucro por litro de leite, é na casa de centavos e portanto o que importa é o volume mensal. E cada vez que aumentam a produção, mais complexa se torna a atividade, dependente de mão de obra instável e saturam o mercado de leite, fazendo despencar o preço do litro, pois a lei de mercado é cruel e não perdoa.  Para baixar os custos, tentam automatizar tudo ao máximo, os mais iluminados e corajosos já começam a utilizar robôs nas ordenhas, substituindo o velha mão de obra humana.
Utilizam técnicas como FIV que permitem uma padronização do gado leiteiro atingindo médias muito altas. Vacas de 25 a 30 litros são vendidas para produtores familiares ou enviadas para os frigoríficos. Antigamente uma vaca considerada boa de leite, produzia 10, 15 litros de leite, hoje uma vaca boa produz na faixa de 50 a 60 litros, tendo as exceções que chegam aos 100 litros. Mas ai a complexidade é enorme. No início, se fazia uma uma ordenha diária e para se atingir médias cada vez mais altas, faz-se 3 a 4 ordenhas diárias. É quando a maioria dos produtores amarra cachorro, jogam a toalha e fazem a liquidação do plantel, pois já estão a beira de um ataque de nervos. Depois de vendido todo o gado, ordenha, equipamentos, tratores e implementos, falam para todo mundo que nunca foram tão felizes, finalmente livres da escravidão do leite. Esta felicidade dura até acabar o dinheirinho arrecadado quando passam por crises do tipo, eu era feliz e não sabia, mas esta é outra história.
Os mais aptos passam para a segunda faixa de produtores.

3 - Produtores Profissionais: ( acima de 5.000 litros /dia). Aqui o negócio é encarado como um indústria. Primeiro faz-se o plano de negócio do empreendimento. O tal business plan contém o planejamento da industria num período de 5 a 10 anos. Capital necessário, despesas, mão de obra, produção e quantidade e tipos de animais necessários  e a média de litros por vaca  de acordo com o sistema de alimentação a ser utilizado. Pastagens irrigadas em pivôs centrais, confinamento total  ou semi-confinamento. As terras são adquiridas sempre próximas as cidades  ou mesmo doadas pelas prefeituras que têm todo o interesse em que uma nova industria se instale na cidade gerando empregos e impostos. O primeiro erro básico é montar a empresa longe da cidade. Os funcionários devem morar na cidade e com a opção de transporte gratuito até a industria de leite.  Os números são na faixa de milhões de dólares, e muitas vezes a empresa é uma sociedade formada por um grupo  de empresários ou mesmo poderia ser uma startup, que capta dinheiro nas bolsas para para todo o empreendimento. Neste caso normalmente após uns 5 anos consumindo o dinheiro alocado pelos investidores crédulos e ávidos por lucro, a empresa abre falência e os donos partem, enriquecidos com contas em paraísos fiscais e  partem para uma nova startup, num negócio totalmente diferente, para se dar dar bem mais uns 5 anos as custas dos tais investidores, ávidos pelo lucro fácil.




quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Bezerros Holandeses: Como produzir um bezerro de 12 arrobas com 12 meses.



Obs.: Projeto Viável para preço do milho igual ou abaixo de R$ 30,00 

A pecuária leiteira no Brasil sempre se caracterizou por desprezar os bezerros machos. O produtor sempre cai em prantos quando uma vaca pare um macho holandês, e manda rezar novena na certeza que aquilo foi olho gordo.  O mais cruéis normalmente matam o pobre animalzinho, que só deu azar de nascer com o sexo errado num país errado e povoado com produtores rurais perdidos no tempo e espaço abandonados pelos governos e sem conhecimentos. Alguns produtores, mais humanos,  doam o infeliz holandesinho para qualquer um, lavando as mãos, e na realidade só estão terceirizando a morte do bezerro. Outros tentam criá-lo da melhor maneira possível para ganhar um dinheirinho mas isto é uma tarefa quase impossível, pois animais europeus não se dão muito bem em países tropicais. Sofrem com o calor, parasitas selvagens e com maus cuidados com sua sanidade. Geralmente os mais puros morrem como moscas,   os 1/2 sangue até  se conseguem sobreviver no ambiente hostil.  Mas quem produz animais 1/2 sangue não é propriamente um produtor de leite:  ele é alguém que não sabe exatamente o que quer, quer produzir leite mas não consegue criar os animais com a alimentação adequada, seja por falta de recursos, medo, ou o mais comum, a preguiça, o irresistível desejo de um negócio simples, sem sofisticações, a herança cultural transmitida pelo seus antepassados. Tudo que eles desejam, é o modelo tradicional, um banquinho, um balde, umas vaquinhas neloradas ou tatu com cobra, como são conhecidas, que não produzem nem  leite nem carne, mas sobrevivem comendo ervas daninhas e um pouco de sal boiadeiro com ureia na seca, e na chuva, que beleza, produzem um balde cheio, com espuma, comendo capim andropogon, grama boiadeiro e até mesmo um pouco de brachiara. O reprodutor normalmente é  um nelore, um cruzado sem raça definida ou até mesmo um Gir orelhudo. Mas tudo muda lentamente, e alguns pequenos produtores, já usam inseminação artificial e até mesmo IATF.
Uma vaca 1/2 sangue pode até dar muito leite, mas também muito coice e sustos. E precisa do bezerro para dar o leitinho, mas como isto não se usa mais, o produtor descobriu uma mágica eficaz, a injeção de ocitocina na veia, que faz o leite descer na hora e a vaca saltar e sumir no pasto na primeira tentativa. mas ela acaba se acostumando com a tortura física e acaba por dar leite em quantidade por uns 4 meses, quando normalmente emprenha. Mas a industria tem solução para quase tudo, para corrigir este período de lactação ridículo, o produtor lança mão do Boostin ou Lactotropin. E ai a coisa muda, as vaquinhas de corte dão leite por 9, 10 meses. Uma beleza. Com o nelorão produzem uns bezerros valiosos, cruzamento industrial. O tal girolando 1/2 sangue cruzado com o nelore, gera um bezerro  bom, um triclós que não é tão bom quanto um 1/2 sangue Nelorando ou uma cruza nelore e Angus, mas dá pro gasto. O coitado é muito maltratado, pois em geral os produtores retiram todo o leite da vaca e deixam os coitados algumas horas com as vacas para mamarem um pouquinho. Um bezerro assim leva um uns 3 a 5 anos para ir para o abate, o que para o bezerro é muito bom, afinal ninguém quer morrer depressa. Já  os bezerros criados em bezerreiros crescem muito bem e são abatidos na metade do tempo.

O 1/2 sangue pode ser usado com o tal gado verde, alegria dos ecologistas, que come capim no verão e na seca se vira com a macega seca rica em celulose, alimento muito bom para cupins. Os produtores mais eficientes confinam o gado na estação da seca.


O produtor de corte brasileiro tem mania de gado Indiano que são animais adaptados a sobrevivência em ambientes de fome generalizada e quase imune aos carrapatos, os mais temíveis inimigos do gado europeu. Dizem que a carne do nelore é especial, mais saborosa. Mas a razão principal eu imagino, é que ela dura mais na mesa, pois é uma carne  musculosa de animais saltitantes que correm alucinadamente nas pastagens sem fim e os convidados ficam mastigando aquela carne de mascar por longas hora enquanto bebericam sua cervejinha ou aguardente. Mas esta é outra história.

Quem quer gado de corte usa o Angus puro ou o cruzamento industrial com o nelore, as demais raças como Bhrama, Senepol e outras bobagens, não servem nem para corte nem para leite, mas são muito úteis para se vender para artistas de tv, cantores sertanejos e outras celebridades do mesmo naipe. Como diz o velho ditado, ninguém perde dinheiro subestimando a inteligencia alheia. 

Alguns produtores usam o GIR, que até dá um leitinho por pouco tempo, muito coice e bezerros peso pluma. Tem alguns que optam pelo Guzerá, imagino que para poderem atender com a matéria prima para a  a industria de berrantes. Outros cortam a cabeça dos animais e penduram como troféus nas paredes de suas casas. Eles têm portentosos chifres. Mas esta também é outra historia.

Mas, perdido neste meio está o velho e bom holandês, que não tem a eficácia do Angus para a produção de carne, mas chega perto. E como Angus não é gado leiteiro, o produtor de leite tem que aproveitar o holandês fêmea para produção de leite e o macho para corte e ele ganha do nelore mas perde do Angus em produção de carne. Mas requer tratamento especial e gera muito mais custos que o saltitante indiano. Mas as coisas mudam.

Dieta de grão inteiro para engorda de bezerros 

A dieta de grão inteiro ( por exemplo milho) é relativamente nova no Brasil e poucos produtores se aventuram nesta técnica ou mesmo a conhecem mas, nos EUA é uma tecnologia em uso desde a época do dilúvio.

Todos sabemos que a energia é fundamental no processo de engorda de um bovino. E o milho é campeão em matéria de energia. Então porque não alimentar os bovinos com milho inteiro e um complemento proteico, vitamínico, mineral e tamponante? Existem núcleos no mercado com esta finalidade e normalmente se usa de 10 a 15% de núcleo e o restante milho inteiro. O tamponante é fundamental pois uma dieta rica ou 100% de concentrado, leva uma queda do PH ruminal e pode produzir abcessos no figado, acidose e até mesmo a morte do animal. Portanto nada de alimentar os bovinos como galinha, na base do ti ti ti ti. A alimentação carece de um período de adaptação, e deve ser servida 3 vezes por dia. Existem tabelas que você deve seguir rigorosamente, sempre orientado por um profissional competente. Os fornecedores de núcleo possuem técnicos que lhe darão toda cobertura necessária.

Não vou entrar em detalhes técnicos pois cada fazenda tem suas peculiaridades e um tipo de gado específico e um monte de ideias do que é o certo. Normalmente neste caso o certo é sempre o errado.

Na Fazenda Veredas no momento o projeto de 4 fases está com 2 delas em testes piloto com 100% de sucesso. A engorda de bezerros e a engorda de vacas descarte. Os outros dois são muito mais arriscados e não encontro literatura sobre o assunto. Vai ser na base do feeling, da intuição e os profissionais da área pouco poderão ajudar. Se der errado serão meus animais que vão pro brejo. Se der certo prometo escrever sobre o assunto. 

Motivadores da dieta 100% grão inteiro

1- redução de mão de obra
2 - redução ou mesmo o fim da produção de volumosos (cana, silagem milho, etc)
3 - economia de maquinário e redução dos custos de combustível e manutenção dos mesmos;
4 - Maior conversão alimentar e maior ganho de peso 
5 - Dificuldades crescente de se encontrar mão de obra
6 - Permitir a uma vaca de corte, a desmama precoce e sua recuperação rápida para que possa parir um bezerros por ano em boas condições corporais. 

É inconcebível uma vaca ficar uns 9 meses com um bezerrão a tiracolo.  O gado de leite já é comum a desmama precoce e quem não faz é porque tem terra sobrando e doido da cabeça pois terra é um bem precioso demais para se criar gadim a pasto. Terra é para agricultura, a não ser claro, aquelas improprias mas, é comum a gente ver fazendas imensas, totalmente planas,  com um boizinho por hectare. Isso é caso de polícia.

Criando os Bezerrinhos Holandeses ou Nelore ou qualquer coisa , menos Jersey claro, pois  neste caso o produtor deve ser colocado em camisa de força e conduzido ao sanatório mais próximo.

Bezerro de gado de leite
Bem, quanto ao holandês macho ele deve ser levado direto ao bezerreiro após mamar o colostro direto na vaca. Se o bezerro foi ganho ou adquirido, reze para ele ter mamado o colostro,  do contrário vai ser uma luta fazer com que ele sobreviva ao ambiente hostil.

Ele deve ser conduzido direto ao bezerreiro. As bezerras devem ser criadas em bezerreiros do tipo argentino. Nada de casinhas. Deixe isto para os cachorros, mas nem eles gostam. Ah, as bezerras não devem receber dieta 100% grão inteiro, pois acumulam gordura gordura no ubere reduzindo a produção de leite no futuro. Para elas use a dieta convencional.

Como bezerros machos o que importa é a quantidade, pois serão vendidos a preço de arroba e não a preço de ouro como as novilhas holandesas, eles devem ser criados em dois espaços distintos nos dois meses iniciais. No primeiro mês criados soltos na área um com sistemas de aleitamento automático ou semi-automáticos e que permitam a maior quantidade possível de bezerros. O espaço deve ser coberto por grama tifton.  Recebem concentrado a vontade. Com 1 mês passam para a segunda área com estrutura semelhante, para permitir a entrada dos novos bezerrinhos na primeira área. Com 2 meses e já comendo 1 Kg de ração / dia passam para a área de dieta de grão inteiro onde permanecerão até os 10 ou 12 meses. Recebem milho inteiro e núcleo da Comigo de Rio Verde, GO. No modelo da Fazenda Veredas, fizemos uma pequena modificação manuais técnicos sobre dieta 100% de concentrado (grão inteiro) e eles ingerem um pouco de volumoso (capim) por razões digamos, estratégicas. A dieta é um pouco diferente do que se encontra em diversos materiais na internet mas, as outras funcionam muito bem também. O custo ´mensal por animal é de R$ 58,00 por animal e eles ganham acima de 1 arroba / mês podendo chegar até 2 arrobas. Quanto mais frio o clima mais ganho de peso. No Mato Grosso este custo cai para R$ 36,00 animal / mês. Eventuais substitutos do milho podem ser usados, como polpa cítrica, casquinha de soja, caroço de algodão, e outros. Cada um deles tem suas vantagens e desvantagens, mas nada é igual ao milho e nem tem preço como o milho. Fuja destas coisas esquisitas que não servem para nada como sorgo em grão e milheto. Use dente de alho, água benta e chame o Van Helsing.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Venda de Animais na Pecuária Leiteira

A produção de leite em si, como negócio, possui uma rentabilidade reduzida e você deve sempre buscar o break even, o ponto de equilíbrio no qual as receitas permitam cobrir todos seus custos, provisionamentos de gastos futuros e seus gastos pessoais. Seja cauteloso. Caso você tenha outro negócio ou fonte de renda, sua flexibilidade é maior e você pode acelerar certos investimentos.

Quer dizer que nunca vai sobrar um dinheirinho para investir ou gastar em Las Vegas,  o amigo leitor deve estar questionando. Sim, desde que você diversifique seu negócio. E há muitas possibilidades que lhe permitem uma receita extra mas, hoje, vamos focar na criação de animais para a venda.

Podemos investir na venda de animais adultos, novilhas ou mesmo bezerras. A venda pode se dar em leilões ou diretamente na fazenda, que é a minha modalidade favorita, pois praticamente não tem riscos, uma vez que a maioria das vendas são a vista.

Os leilões são atraentes mas ainda pecam nas garantias que oferecem aos vendedores. A criação de um seguro contra os tradicionais caloteiros tornaria os leilões mais atraentes. Menos rentáveis com certeza, mas e daí, elimina-se o medo e os dissabores que assustam e afastam muito potenciais  vendedores de leilões.

E como em todo negócio, existem os leilões sérios e os festivos que chegam ao extremo de serem surreais, no qual um grupo de produtores unidos num cartel,  dão lances nos animais, levando-os a atingir preços estratosféricos, em compras e vendas de fantasia.  Neste momento o leilão todo entra num frenesi, com as pisteiras gritando estericamente e a musica ambiente em surround aumenta e contamina todo recinto parecendo uma sessão de guerra nas estrelas. É ai que algum comprador inocente, não resistindo a um impulso de sua própria vaidade, dá um lace, o único lance verdadeiro e arremata por R$ 40 mil reais uma vaca que não custa mais que R$ 4 mil reais. É aplaudido de pé por todos no leilão como se fosse uma celebridade. E assim mais um empreendimento recebe sua primeira e última pá de cal.

Produzir leite é uma atividade que, se você não for do tipo meio desligado, o stress é permanente. Estou há 1.000 km de casa e meu funcionário responsável, me ligou há pouco dizendo: a bomba automática de enviar o leite para os tanques não quer funcionar, nem no manual, estamos parados. Ligo para o técnico da manutenção que me atende em pleno domingo, e coloco-o em contato direto com meu funcionário. Minutos depois eu ligo na fazenda e conseguiram um modo de enviar o leite da sala de ordenha pra a sala do tanque. Resolvido provisoriamente até a visita do técnico amanha. Neste momento é que você precisa dos melhores funcionários e dos melhores técnicos de manutenção mas isto custa caro.
Às vezes tenho vontade de me concentrar apenas na venda de animais mas alguns fantasmas me impedem. O primeiro deles é o custo mensal da criação dos animais, composto por alimentação, inseminação artificial, IATF, veterinário, remédios e vacinas e mão de obra, embora reduzida quando comparada a necessária para a produção de leite.

O outro medo são as transformações que estão ocorrendo no mercado, com uma grande parcela dos produtores deixando a atividade, o que reduz e muito o potencial de  clientes para compra de animais. Os grandes produtores produzem seus próprios animais e o outro segmento que vai restar é composto pelos produtores familiares, que em geram preferem animais mais rústicos e de valor reduzido.

É claro que sempre aparecerá um ou outro médio produtor ingressando na atividade mas, a maioria deles não resistem por mais de 2 a 3 anos. Produzir leite não é uma atividade que tolera muitos erros.

Se não pretende produzir leite e sim animais bons de leite, aquilo que eles chamam, não sei por que, de animais de elite, que nada mais é que uma vaca boa de leite e com características que lhe permitam uma vida produtiva, fértil e sã por muito tempo. 

Por muito tempo entenda-se umas 3 ou 4 lactações pois depois disto melhor demitir a tal vaca de elite e vendê-la por um preço justo, para um frigorífico ou para alguém disposto a correr o risco com um animal já bastante rodado.

FIV , TE e IATF.

Se você planeja vender animais de qualidade sugiro que  utilize as técnicas de FIV ou TE para gerar as bezerrinhas. A transferência de embrião ou TE é uma técnica mais antiga e feita na própria fazenda. A fêmea é estimulada através de hormônios a produzir vários gametas femininos e após a manifestação do cio, a vaca é inseminada com o semem do touro mais apropriado no sentido de se corrigir as imperfeições da mãe em diferentes quesitos, como ubere, pernas, profundidade, etc. Sete dias após a inseminação, é feita a coleta dos embriões através de lavagem uterina. Os embriões são então selecionados e transferidos para as receptoras, normalmente vacas neloradas, as chamadas barriga de aluguel, que irão criar as bezerras com o seu leitinho. 

Já a técnica FIV ( Fertilização "in vitro"),  os gametas, coletados diretamente dos  ovários das doadoras,  são enviados ao laboratório, onde são maturados e fecundados com espermatozóides selecionados. Aqui se usa sempre semem sexado pois basta uma pequena quantidade de  sêmen  para a fecundação de um grande número de oócitos. Depois os embriões são implantados nas receptoras. Como receptoras pode-se usar vacas neloradas ou novilhas leiteiras. A técnica TE é menos apropriada para o uso de sémem sexado e mais adequada para quem também é focado em produzir leite. 

IATF é o que se chama de Inseminação por tempo fixo. É o processo no qual você induz um grupo de animais, mediante o uso de determinados hormônios, a ciclarem num determinado dia, no qual você irá inseminá-los todos de uma vez só. Isto permite, programar a parição de seus animais, para que você sempre tenha vacas recém paridas na sala de ordenha,  mantendo estável a produção de leite. É o mais simples dos procedimentos e o mais barato.

Mas afinal quanto custa produzir uma novilha de leite?

Mês Preço
  Bezerra
   1,00      76,05
   2,00     129,49
   3,00     186,70
   4,00     232,82
   8,00     442,33
 10,00     552,42
 12,00     665,52
 14,00     782,08
 16,00     857,85
 18,00     892,83
 20,00     931,81
 22,00     974,13
 24,00  1.019,46
 30,00  1.161,75

Acima está a tabela com o custo de alimentação mês a mês de uma bezerra desde o primeiro mês até sua parição aos 24 meses. Como volumoso, foi utilizado cana de açúcar e capim, mais 2 Kg de ração dia  e 1 Kg de polpa cítrica como concentrado. Se você é daqueles que gosta de dar do bom e do melhor, silagem de milho, dobre o custo da novilha. Não me atrevo a dar silagem para às novilhas. Já disse para meus funcionários, se eu autorizar isto, chamem um psiquiatra urgentemente.

Deve ser somado custo pequenos de vacinação e remédios e o custo do semem varia dependendo da qualidade do touro a ser usado. Mas existem bons touros com semem convencional na faixa de R$ 30 reais, geralmente em promoções. O custo com remédios e vacinas também difilmente ultrapassa R$ 30,00 e se ultrapassar trata-se de um animal condenado.

Se você usa Inseminação artificial ou mesmo IATF, pode-se considerar um custo adicional de R$ 100 por bezerra.

Quanto a FIV, um preço seguro é em torno de R$ 500,00 pela prenhez.

Resumindo, uma novilha não custa mais que R$ 1.500,00 ao produtor se parir aos 24 meses  (que é o ideal) e em torno de R$ 1.650 se parir aos 30 meses. 

A mão de obra deve ser desconsiderada nos custos, pois os funcionários que cuidam das bezerras e novilhas são os que fazem a ordenha ou os que cuidam do trato dos animais. Portanto já é um custo existente e não deve ser duplicado, a não ser, é claro, que você não produza leite ou tenha funcionários dedicados apenas a criação dos animais.

Não é difícil vender um animal assim por R$ 3.500,00 a vista, se estiver chegadinha para parir. Not bad. Se o animal for excepcional pode-se chegar aos R$ 5.000,00.

E as bezerras?

Não é muito difícil vender uma bezerra recém desmamada na faixa de R$ 1.000 a vista. Bezerras maiores, com 12 meses, o mercado paga R$ 2.000 a R$ 2.500 e é uma alternativa para se fazer caixa, nos tempos difíceis.

E as Vacas?

Interessante que no Brasil existam compradores para vacas. Caro amigo, compre novilhas, nunca coloque seu suado dinheirinho numa vaca, pois elas são caixas pretas, passíveis de portar vírus, bactérias e outros micro organismos que provavelmente não existem em seu rebanho. Mas se você precisa se desfazer de algumas vacas acima de 2 crias, melhor enviá-las para um leilão e correr o risco, pois não dá para vender um animal já usado, a vista. Vacas produtivas se desgastam rapidamente e têm uma vida útil de 3 ou 4 crias. Depois disto, começam a apresentar problemas reprodutivos, mastites mais frequentes e queda na produção.

Seja Ético

Dias atrás,  vendi algumas novilhas e  vacas de primeira cria para um produtor de uma cidade vizinha. Ele estava acompanhado por um zootecnista com um faro muito bom para escolher os melhores animais. Mas num dado momento eles questionaram sobre um belo animal. Eu disse logo, este não pois já abortou uma vez. E de fato, uma semana depois a vaca abortou novamente. Na hora de vender, venda o que você possui de melhor, pois empurrar animais duvidosos  num cliente significa um cliente a menos que você terá.